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Fica a saudade e a gratidão por tanto amor e dedicação a nossa agremiação. Descanse em paz!
Fernando Pamplona

“Já fiz tanta coisa nessa vida: fui cenógrafo, diretor de teatro, de televisão, já dirigi ópera, dei aula em universidade… Mas quase toda entrevista que eu dou é por causa do carnaval.”

Fernando Pamplona era daqueles poucos homens que podiam se gabar com toda a autoridade do mundo de viver muitas vidas em uma só. A inquietude, o espírito revolucionário, a intensidade de tudo o que fazia não o deixavam ser homem de apenas uma arte. Mas todas essas formas de manifestação fluíram para um único caminho: o desfile das escolas de samba. Foi lá que ele foi mais artista. Foi no Salgueiro que ele foi mais Pamplona.

 

“Criticavam a nós, os artistas de classe média, acusando-nos de interferir numa manifestação popular. Como se a gente não fosse povo e não sentisse também o que o povo sente.”

Em 1959, Pamplona encarnou Zumbi dos Palmares. Tal como o herói negro, fez do Salgueiro o seu quilombo, a sua Tróia, seu campo de liberdade de criação. Sua arma? A beleza! Para isso se cercou de um exército de talentos. Dali surgiu uma geração de artistas do carnaval que fez das escolas de samba um laboratório de experiências visuais. Trouxe o método para as agremiações. A pesquisa de figurinos e ornamentos de época, os enredos originais, revolucionários, à margem da história oficial. O quilombo estava formado. Depois cada soldado seguiu seu caminho. E a diáspora salgueirense influenciou todo o carnaval carioca.

 

“Tem que se tirar da cabeça aquilo que não se tem no bolso”.

Um dia Pamplona ouviu esta frase do diretor de teatro Mário Brasini. Nunca mais esqueceu. Um pensamento se tornou uma espécie de mantra naqueles anos em que as escolas de samba buscavam apoio ainda nos livros de ouro, contribuições espontâneas de comerciantes da comunidade para confeccionar as fantasias e carros alegóricos. Tempo em que a “corretagem zoológica” pingava parcos recursos nas agremiações. Com a verba na conta do chá, era preciso lançar mão da criatividade. Era a senha para a revolução estética. Pamplona soube como ninguém se virar para botar o carnaval na rua. Adaptou as decorações de bailes de carnaval aos enredos que levaria para avenida com o Salgueiro. Trouxe novos materiais, novas linguagens, novas propostas. Foi inventivo, brincou com as formas, com as cores, com a própria estrutura do carnaval. Enfim, foi artista. Foi líder. Foi mestre.

 

“Eu sou Salgueiro e fim de papo”.

Nos anos 80, Pamplona colaborou com outras escolas ao sugerir enredos para o Império Serrano e a Mocidade Independente. Mas seu coração era de fato vermelho e branco. Pulsava no toque do alujá de Xangô, marca da nossa bateria. Nunca fez carnaval por dinheiro nem nunca foi carnavalesco de outra agremiação. A fidelidade à bandeira, coisa rara hoje em dia, era um espelho das suas convicções.

“… e o meu cinzel raiava aurora…”

Tá vendo, velho Pampa? Por isso que você dava tanta entrevista sobre carnaval… A festa vai ficar mais triste sem você. Mas daqui da Terra a gente sabe que hoje o desfile não é mais como antes. Ganhou vida própria. Mas conserva ali, na célula primordial, o seu DNA. A nação salgueirense está órfã. Mas levaremos pra sempre no nosso sangue e nosso amor por essa bandeira a sua marca de gênio da raça brasileira. Temos a certeza de que nos encontraremos cada vez que o Salgueiro fizer por merecer a sua arte revolucionária, inquieta e transformadora. Quando o Salgueiro for mais Pamplona, nós seremos mais Salgueiro.

E fim de papo!!

 

fernando-pamplona


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