Anos 2000
… E O FUTURO CHEGOU
Os anos 2000 começam sob a marca da regularidade e uma coincidência para o Salgueiro: na primeira década do novo século, exceto em 2007 e 2009, a escola sempre desfilou no domingo. Em 2001, primeiro carnaval do novo milênio, a escola foi encontrar inspiração para o seu desfile no Pantanal, região de grande beleza incrustada no coração do Brasil. Com o patrocínio do Governo do Estado do Mato Grosso do Sul, a escola alcançou a quarta colocação, mas deixou a avenida com um sentimento de que poderia ter ido mais longe com o belo visual criado por Mauro Quintaes, sem dúvida seu melhor trabalho nos quatro anos em que esteve na escola.
Em 2002, o Salgueiro se reencontra com bons sambas. A disputa de samba de enredo foi uma das mais acirradas para cantar a história dos pioneiros da aviação no enredo Asas de um sonho… viajando com o Salgueiro, o orgulho de ser brasileiro, patrocinado pela companhia aérea TAM. Reacendiam-se as esperanças de um grande desfile, mas a escola tropeçou na organização interna e o resultado foi visto na avenida. O samba, considerado um dos melhores do ano, não conseguiu empolgar e a escola simplesmente passou, tendo, porém, alguns bons momentos na avenida. Foi um sexto lugar desconfortável para a agremiação.
Para o carnaval de 2003, a escola trouxe a dupla Renato Lage e Márcia Lavia e o enredo sobre o cinqüentenário da escola. Salgueiro, minha paixão, minha raiz – 50 anos de glória parecia um sonho. Depois de dois enredos patrocinados, o Salgueiro desfilaria com a melhor história que poderia contar na avenida: seus 50 anos de glórias. O samba vencedor da disputa caiu nas graças não só da comunidade salgueirense, mas de toda a cidade. As alegorias e as fantasias preparadas pelos carnavalescos eram verdadeiras obras de arte. Mas na hora da verdade, ou seja, na avenida, a escola teve vários problemas, como a quebra do carro abre-alas entre os setores 9 e 11, o que prejudicou o andamento do desfile e tirou pontos preciosos no quesito cronometragem. Mesmo com todos os contratempos, os componentes tinham absoluta certeza de que o Salgueiro viria para brigar. Mas alguns jurados não entenderam a bela homenagem à escola, dando notas menores em alegoria e comissão de frente, por exemplo, reservando ao Salgueiro uma inexplicável sétima colocação.
Em 2004, mais um enredo patrocinado: Da cana que aqui se planta, tudo dá … Até energia – Álcool, o combustível do futuro. Apesar da aridez do tema, os carnavalescos elaboraram uma doce viagem na história da cana até a transformação em combustível. Mais organizado internamente, o Salgueiro entrou na avenida com garra e trouxe uma comissão de frente inesquecível, criada pelo coreógrafo Marcelo Misailidis. Representando a origem da cana-de-açúcar na Índia, os componentes apresentaram várias performances, tendo como apoteose a transformação dos elementos cênicos em um elefante. A escola trouxe um belíssimo visual, inspirado na leveza e colorido do tema. Mas num ano de reedições de sambas antológicos, o hino salgueirense não empolgou, levando a escola a uma sexta colocação.
Os preparativos para o carnaval de 2005 foram dos mais conturbados da história salgueirense. Com a morte dos patronos Maninho e Miro Garcia, a vermelho-e-branca precisou mais do que nunca se unir para apresentar um grande desfile com o enredo Do fogo que ilumina a vida, Salgueiro é chama que não se apaga. O desafio foi vencido. O excelente desenvolvimento do enredo de Renato Lage e Márcia Lavia contava a história e a importância do fogo para a humanidade. A plástica do tema iluminou os carnavalescos a criarem um belíssimo trabalho de cores quentes e formas originais inspirados no elemento. O Salgueiro desfilou com uma garra que há muito tempo não se via. Exceto por problemas em duas alegorias, que tiveram dificuldade de passar pelas árvores não podadas da Presidente Vargas, a escola foi perfeita e incendiou a avenida, credenciando-se ao título. Injustamente, porém, na abertura dos envelopes, apenas a 5ª colocação foi reservada à escola.
Golpe maior a escola sofreria no ano seguinte, quando levou para a avenida o enredo Microcosmos, o que os olhos não vêem, o coração sente, criado por Renato Lage e Márcia Lavia. Já contando com a estrutura do barracão na Cidade do Samba, a escola sentiu o peso de abrir o desfile do Grupo Especial, com um público ainda frio e pouco receptivo. O resultado final foi a 11ª colocação, a pior da história do Salgueiro.
Para se reerguer, em 2007 o Salgueiro foi em busca de suas raízes para encontrar, na África Oriental, a história das Candaces, rainhas negras que governaram o Império Meroe, sete séculos antes de Cristo. Tudo pareceu perfeito para mais uma vitória – ou pelo menos o vice-campeonato. A escola fez um desfile brilhante e saiu aclamada pelo público e pela imprensa como postulante ao título. Uma boa colocação parecia certa para a escola (e para o público em geral). Essa expectativa durou apenas até a leitura das primeiras notas, na quarta-feira de cinzas. Inexplicavelmente os jurados deram notas baixas à escola. Afastada da luta pelo campeonato, o Salgueiro terminou a apuração em 7º lugar.
Mesmo que o resultado oficial não tenha sido favorável à escola, o público viu mais uma demonstração de força do Salgueiro, que, na avenida, ressurgiu das cinzas e se reencontrou com os melhores momentos de sua história. Em 2007, o Salgueiro provou a todos que continuava sendo.
Para o carnaval 2008, o tema escolhido foi o Rio de Janeiro. Preocupados com a situação da cidade, a dupla de carnavalescos do Salgueiro Renato Lage e Márcia Lavia criou o enredo O Rio de Janeiro Continua Sendo. Uma injeção de auto-estima no povo carioca, que pretendia mostrar que, apesar das “nuvens” que insistem em esconder seu brilho, a Cidade continuava Maravilhosa.
Toda a escola incorporou o espírito carioca. Empurrado por um samba alegre, o Salgueiro, mostrou uma cidade que resistiu às idades, às épocas, aos contratempos. Cidade da saborosa desordem, do improviso. Do burburinho do Centro, dos pagodes dos subúrbios, das praias e do mar da Zona Sul. Rio de Janeiro, fevereiro e março, do carnaval, do Salgueiro. E com um desfile bonito, colorido e empolgante, a escola deixou a avenida com uma das favoritas e chegou ao vice-campeonato do carnaval.
O excelente resultado animou os salgueirenses na busca por mais uma vitória em 2009. E os trabalhos começariam muito bem, com o enredo do carnavalesco Renato Lage e da diretoria Cultural da escola. Tambor pretendia mostrar na avenida toda a ancestralidade, brasilidade, contemporaneidade de um instrumento que atravessou os tempos, culminando em uma homenagem a Mestre Louro, falecido em 2008, e com um toque de africanidade que sempre fez bem à escola. Liderado pela segunda vez em sua história por uma mulher, a presidente Regina Duran, que venceu as eleições de maio de 2008, o Salgueiro entrou imponente na avenida e mais uma vez saiu aclamado pelo público como campeão do carnaval.
Ao contrário dos outros anos, porém, desta vez não houve surpresas desagradáveis. A escola liderou a apuração de ponta a ponta e, pela nona vez em sua história, se consagraria campeã do carnaval. Mais uma vez os tambores do Salgueiro rufaram e o Rio de Janeiro foi pintado com o vermelho e branco da Academia.
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