O Salgueiro é a Academia da Samba e o samba, vamos combinar, é quase sinônimo de malandragem. Fruto do morro, do viver como dá, das engenhosidades do povo de fé que teve que aprender a fazer dos barrancos: escadas; do impossível: a batucada.
Malandragem é esperteza sagaz que vem da sabedoria das ruas, da madrugada, dos bambas, do balanço do transporte e da passista, do bater dos tambores, do lenço na lapela e do samba no pé. Em 2016, o Salgueiro vai homenagear esse patrimônio carioca e brasileiro: o malandro, que não dorme no ponto e nem baixa guarda para qualquer mané. Vamos para a Avenida com nosso estandarte vermelho, chapéu e terno branco!
Engana-se aquele que só vê na malandragem a maldade e a vontade de levar vantagem. O malandro é um sobrevivente charmoso, rei da ralé, que tem o santo forte o suficiente para viver na boemia e ser protegido… Laroiê.
Só que malandro que é malandro e conhece a dureza da vida, não quer ser mané. Mané é aquele malandro fracassado, sem santo, sem sorte e sem axé. Por isso, o Salgueiro, em sua histórica malandragem, manda essa mensagem neste de 25 de novembro: malandro que é malandro não comete violência contra mulher. Não bate, não ofende, não assedia e não se aproveita de uma mulher.
De que vale ser bamba nas vielas, na quadra e na avenida, mas mané na sociedade? Malandro que é malandro sabe que mulher não precisa se dar o respeito, pois ele já é dela por direito. Não há Carnaval sem malandro, não há Carnaval sem mulheres bambas, fortes e livres de qualquer tipo de violência. E quando falamos em violência contra mulher, o Brasil é um país muito mané. Uma mulher é assassinada a cada 13 minutos por aqui, e a maioria delas por ex-companheiros, ex-namorados, conhecidos. Mané que não sabe ouvir um não. Que não sabe que seu direito acaba onde começa o direito o outro.
E se por acaso um malandro encontrar por aí um mané, é seu papel fazer da malandragem a defesa da mulher. Se posicione, denuncie, não se cale. E se por acaso um malandro encontrar por aí quem não respeita sua malandragem, é só sair de lado miudinho com o chapéu na mão, balançando à luz da lua na certeza de ser muito mais malandro do que aquele mané…. ê, Zé.
(Beatriz Accioly, salgueirense, carioca e pesquisadora sobre violência contra mulheres na Universidade de São Paulo)
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